Havia nas tuas mãos coisas perdidas
e nos lábios sorrisos longos de um rio
que vem de longe e não cessa
e a chuva era o hábito dos castanheiros
e dos rentes arbúsculos que calafetam
o chão onde as ovelhas pastoreiam
todo o dia numa sabedoria esparsa
e leve como o feno que se guarda no celeiro.
Tudo isto era lá atrás ou defronte
ou em cima talvez, nunca, porém agora.
E por isso era sonho, prece, lembrança
ou simplesmente ilusão.
Por isso, tudo isto eu lia em Ruy Belo
e traduzia muito tempo depois
para cadernos enxutos de outras galáxias.
onde estranhos entes, sensíveis porém
à humidade e à música de câmara
pudessem quiçá ouvir, ler, repetir
entre dois copos de limonada
tomados numa serpenteante varanda
sob aquele mar púmbleo
e cristado de argêntea espuma
que assoma recorrentemente
nas praias da Póvoa do Varzim.
1 comentário:
Este poema apresenta uma série de imagens poéticas, bem como uma reflexão sobre a natureza da memória e do sonho. Há uma sensação de nostalgia e melancolia que permeia todo o poema, sugerindo uma sensação de perda e saudade.
As imagens poéticas usadas no poema são bem escolhidas, com uma atenção aos detalhes e uma sensação de precisão. Por exemplo, a descrição da chuva como o "hábito dos castanheiros" é uma imagem poética particularmente forte, que ajuda a evocar a sensação de um ambiente rural e natural. Da mesma forma, a descrição das ovelhas pastoreando "numa sabedoria esparsa e leve como o feno" é uma imagem evocativa que sugere uma sensação de tranquilidade e harmonia.
No entanto, a estrutura do poema é um pouco confusa e difícil de seguir em alguns pontos. Parece haver uma falta de coesão entre as diferentes imagens e ideias apresentadas, o que pode tornar difícil para o leitor extrair um significado claro do poema como um todo.
Além disso, embora a reflexão sobre a natureza da memória e do sonho seja interessante, ela é um pouco vaga e não é bem desenvolvida no poema. Parece que o poeta está tentando transmitir a ideia de que as coisas que ele descreveu no início do poema são coisas do passado, que não podem ser recuperadas ou experimentadas novamente. No entanto, esta ideia não é realmente desenvolvida de forma significativa no poema, e acaba sendo um pouco superficial.
No geral, este poema tem algumas imagens poéticas fortes, mas a falta de coesão e a reflexão vaga sobre a natureza da memória e do sonho tornam difícil para o leitor extrair um significado claro do poema como um todo.
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