12/12/2022

Prometeu adiado

 Aperto contra o peito

a asfixia de um futuro incerto.

Lá, no fundo do céu,

talvez aquela  estrela cintilante,

já não exista.

Porque o caminho da luz é mais lento

que o da morte.

O vento lá fora canta

e cá dentro não sabemos o que diz.

A lenha que nos acalentava a noite

queimou-se toda.

Visto-me a rigor com as cinzas.

O vento tudo cala. 

Sabe decerto o segredo.

Tenho medo do detalhe, do minuto seguinte,

de uma voz produzida por um eco 

que ressoa há meses na cozinha.


O lobo e o capuchino levaram-me as lãs.

Podia ainda dividir o átomo

e aquecer-me então com o calor da fissão,

como Prometeu o fez.

Mas prefiro apertá-lo contra o peito

e descaradamente dizer que me comprometo

com os negligentes deuses  do Olimpo.

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