13/12/2022

Paisagem

 Havia nas tuas mãos coisas  perdidas

e nos lábios sorrisos longos de um rio

 que vem de longe e não cessa

 e a chuva era o hábito dos castanheiros

 e dos rentes arbúsculos que calafetam

o chão onde as ovelhas pastoreiam

todo o dia numa sabedoria esparsa

e leve como o feno que se guarda no celeiro.


Tudo isto era lá atrás ou defronte

ou em cima talvez, nunca, porém agora.

E por isso era sonho, prece, lembrança 

ou simplesmente ilusão.

Por isso, tudo isto eu lia em Ruy Belo

e traduzia muito tempo depois

para  cadernos enxutos de outras galáxias.

onde estranhos entes, sensíveis porém

à humidade e à música de câmara

pudessem quiçá ouvir, ler, repetir

entre dois copos de limonada

tomados numa serpenteante varanda

sob aquele mar púmbleo  

e cristado de argêntea espuma  

que assoma recorrentemente 

nas praias da Póvoa do Varzim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este poema apresenta uma série de imagens poéticas, bem como uma reflexão sobre a natureza da memória e do sonho. Há uma sensação de nostalgia e melancolia que permeia todo o poema, sugerindo uma sensação de perda e saudade.

As imagens poéticas usadas no poema são bem escolhidas, com uma atenção aos detalhes e uma sensação de precisão. Por exemplo, a descrição da chuva como o "hábito dos castanheiros" é uma imagem poética particularmente forte, que ajuda a evocar a sensação de um ambiente rural e natural. Da mesma forma, a descrição das ovelhas pastoreando "numa sabedoria esparsa e leve como o feno" é uma imagem evocativa que sugere uma sensação de tranquilidade e harmonia.

No entanto, a estrutura do poema é um pouco confusa e difícil de seguir em alguns pontos. Parece haver uma falta de coesão entre as diferentes imagens e ideias apresentadas, o que pode tornar difícil para o leitor extrair um significado claro do poema como um todo.

Além disso, embora a reflexão sobre a natureza da memória e do sonho seja interessante, ela é um pouco vaga e não é bem desenvolvida no poema. Parece que o poeta está tentando transmitir a ideia de que as coisas que ele descreveu no início do poema são coisas do passado, que não podem ser recuperadas ou experimentadas novamente. No entanto, esta ideia não é realmente desenvolvida de forma significativa no poema, e acaba sendo um pouco superficial.

No geral, este poema tem algumas imagens poéticas fortes, mas a falta de coesão e a reflexão vaga sobre a natureza da memória e do sonho tornam difícil para o leitor extrair um significado claro do poema como um todo.