04/08/2023

Gato ao sol

Está um gato ao sol

defronte da campina.

Que saberá ele de astronomia

para além do que o aquece?

E do silêncio, senão a ausência

do vento nas folhas da oliveira?

E de botânica,

mais do que o odor dos malmequeres

quando em março florescem?


Agora lambe-se pata a pata

como se uma tocadora de harpa fosse.

Sem pauta, 

dedilha com a humidade certa

a sua sonata favorita para piano e prazer.


Ao meio-dia, 

transparece na sombra,

fecha olhos 

e tudo o que aprendeu esquece.

2 comentários:

Jaime Portela disse...

Um poema diferente, em que o gato é o principal personagem.
Excelente, gostei imenso.
Boa semana, caro amigo Luís.
Um abraço.

Graça Pires disse...

O gato é o pretexto para o seu diálogo com o mundo e com tudo o que o cerca. Por isso, mesmo que aparentemente não saiba nada, pode saber de astronomia, de botânica, de silêncio, de música. Porque é assim a poesia. Todos podem ser tudo ao mesmo tempo. Mesmo não tendo nada, qualquer coisa transforma em realidade o que imaginamos.
Mas também posso ver o gato a dormir depois de se lamber pata a pata.
Um poema belíssimo, meu Amigo Luís.
Desejo que esteja bem.
Uma boa semana.
Um abraço.