Agora é tarde, Miguel, para ler Schopenhauer e empreender caminhos abertos à força entre o senso comum.
Mesmo que as andorinhas regressem aos poemas em círculos centrados no restolho que ficou por arder no último verão, agora é tarde.
Podes tentar suspender o tempo, trocar o espaço por outro mais conveniente, baralhar as causas que houve entre o bater da porta e o partir do copo que ficou por lavar; podes balançar-te pela sala, em chinelos rotos, com o Sarabande de Vivaldi ou envolver-te sem compromisso em outros experientes saraus dançantes; ou mesmo deixar a porta entreaberta à espera que os mortos te visitem no final do dia, porque nada, mesmo nada mudará o teu destino.
Foste obrigado a saborear com prazer o paladar do vinho novo.
Descobriste que vieste para não ficar, nem voltar sempre, como te lembram agora as novas andorinhas.
Agora é tarde, rapaz.
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