20/01/2023

Prometeu agrilhoado (a um poema canino)

 Leio-te urgente,

porque o tempo passa à bolina

com a sua cria entre os dentes.


E ficam a boiar à minha frente

as imagens que os teus comboios de papiro

levam e trazem, trazem e levam.


Há coisas que é preciso imaginar.

Outras não, entram-nos como milhafres

pela janela adentro

para nos despedaçar o ventre, o fígado depois,

a ironia quase sempre.


Ali ficamos, agrilhoados a um sofá de pedra,

simplesmente à espera que a maré suba

e que alguém escolha por distração

em que onda nos havemos de afogar.



1 comentário:

Jaime Portela disse...

Soberbo.
Os meus aplausos.
Um abraço.