«Depois falamos», disse-me ela,
deixando-me na mão o aço em brasa da espada.
«Quando arrefecer...», profetizou ainda sem esclarecer.
Percebi que iria voltar um dia.
O restante especulei: inventei sombras, reverberações
nas paredes da casa.
Perscrutei o destino nos olhos do gato,
que me eram de coruja.
E o outono acabou por chegar,
quando a espada arrefeceu,
fazendo-se então tíbia sensação,
canto que embala e prepara.
Ouvi o eco que já não parecia sê-lo.
Se fosse, era apenas o eco do eco do eco.
A boca a mexer-se no espelho, sozinha,
sem pensamento,
instinto animal que não entende, mas sente.
«Não tenho medo, tenho pena»,
disse-mo meu pai.
Compreendi tão profundamente,
como se compreende o esquecimento,
um totem magnífico
cuja areia vai cobrindo sem ritual, nem plano.
A luz era agora amarela, daquela que irradiam
as páginas muito antigas.
A ideia de osso ganhava vida,
os pássaros partiam para sul.
Se voltaria a vê-los, ou não, só no inverno saberia.
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