Passo pelos prédios e fico orgulhoso pelos pedreiros, pelos serventes, por todos aqueles que ergueram uma casa para os outros. Deve ser boa essa sensação de ter construído algo tão sólido e necessário. Mesmo que possa ser provocado pela necessidade de uma retribuição monetária, construir um lar é também uma forma de amor ao outro.
Quando assisto a algumas cenas teatrais, sou tocado pela súbita aparição do belo. E a beleza torna-se, naquele momento, também numa manifestação de bondade.
Porém, ao contrário das casas de tijolo e cimento, sinto aquela figuração efémera, vapor de água que se esfuma e desaparece. Esse é uma característica diferenciadora do teatro ante outras formas de contar uma história: é irrepetível. Aquela cena acontece e jamais se repetirá. Por mais que os atores tentem, ela será sempre diferente em cada atuação. Temos de estar presentes e atentos para a testemunhar. Essa condição faz do teatro um fenómeno muito especial entre os sortilégios da humanidade. Numa civilização que tende para a virtualidade, esta experimentação exclusiva e absolutamente real torna-se ainda mais valiosa.
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