01/11/2021

Antes que seja tarde

 Odeceixe, 30 de outubro de 2021


I.

Antes que seja tarde e a noite cubra o vale, caminho o trilho que segue de mão dada com o rio até ao estertor atlântico da praia de Odeceixe, onde o mar ambicioso mede antigas fronteiras com a timidez da terra.


II.

Escrevo sobretudo contra o tédio,

como o peixe que sufoca

entalado entre um lagarto sem rabo

e uma pedra pequena

que trouxe sem querer da infância

na algibeira das calças cinzentas.


III.

De que serve tanta teoria

se apenas as preces

e a ousadia

alumiam a gruta nebulosa

da nossa genealogia.


IV. 

Não há coisas ou lugares,

apenas um espelho de água,

espalhando-se e banhando

as margens áridas do tempo a haver;

uma sopa de algas, ácidos e fermentos

conquistando palmo a palmo

a rota improvável de um lobo cego

que nos segue desde a aurora.



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