Odeceixe, 30 de outubro de 2021
I.
Antes que seja tarde e a noite cubra o vale, caminho o trilho que segue de mão dada com o rio até ao estertor atlântico da praia de Odeceixe, onde o mar ambicioso mede antigas fronteiras com a timidez da terra.
II.
Escrevo sobretudo contra o tédio,
como o peixe que sufoca
entalado entre um lagarto sem rabo
e uma pedra pequena
que trouxe sem querer da infância
na algibeira das calças cinzentas.
III.
De que serve tanta teoria
se apenas as preces
e a ousadia
alumiam a gruta nebulosa
da nossa genealogia.
IV.
Não há coisas ou lugares,
apenas um espelho de água,
espalhando-se e banhando
as margens áridas do tempo a haver;
uma sopa de algas, ácidos e fermentos
conquistando palmo a palmo
a rota improvável de um lobo cego
que nos segue desde a aurora.
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