20/11/2021

Autopsicografia

     Como me veem os outros? Aquele que teve pretensões ou apenas o que se alinhou com as exigências sociais que a vida vai fazendo? As análises podem assumir uma gradação extensa de profundidade: à superfície, todos se rotulam e encaixam em meia dúzia de padrões ou gavetas; em profundidade, não há dois seres iguais, nem sequer dois dias; e é a caminhar por esta última vereda, sombreada e misteriosa, que encontraremos um estado, um reflexo, uma expressão de uma época ou geração, onde poderei inferir quem sou eu, aqui e agora.

    Tenho, por enquanto, ilusões, o que poderá arrimar-me ao grupo dos que  pretendem transformar-se. Porém, a minha dificuldade em desagradar aos outros reduz a velocidade de qualquer transformação a que me proponha. Sentido-me sobretudo um poeta, as ilusões que em segredo me tomam a consciência têm uma natureza subtil, alternativa e por vezes onírica também. A interpretação do sonho como lugar desejado onde nos perspetivamos no tempo, não pode ser alvo de julgamento moral, mas tão-só aceite como um referencial toponímico e existencial para onde as nossas ações convergem  intensa ou timidamente.

    Entre os esforços tímidos no encalço do sonhos, aventuro-me em textos como  este, onde em casta solitude, procuro através da escrita encontrar uma autopsicografia.   


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