06/01/2025

Inverno na casa de verão


nem sei porque me trouxeram o inverno se já o tinha assente sobre as pernas

aqui   ali   sentado escrevendo   na casa de verão   nunca ninguém me disse

que eu tinha imaginação      mas imagino que a tenho       imaginando 

a plena infância     a juventude inventada agora   à pressa    on n'est pas sérieux 

quand on a 17 ans      imagino a ascendência e a decadência da dinastia de avis

o tédio e a euforia dos anos 70     a loucura bem disposta quando num dia de sol 

fomos comprar peixe à praça    o mergulho atlântico num rio que corre no meio

de portugal    a águia que às vezes me sobrevoava quando pioneiro  procurava

pepitas de ouro na meseta central     poder-vos-ia descrever toda a minha vida 

sofrível   palavra aprendida   quando a professora  ilídia classificou o meu teste 

de português    como se a ela tivesse sido uma aventura ao sol     perseguição 

a cavalo dos índios navajo  numa pradaria em braga     e tudo isto é triste 

e ao mesmo tempo ousado     sobretudo solitário    porque imaginamos   

sempre sozinhos    em contramão com a realidade   que nos toma  como um 

peixe  a respirar o vento que cruza     a casa de verão      neste dia invernoso



Aroeira, 5 de janeiro de 2025

2 comentários:

Graça Pires disse...

Gosto desta sua prosa poética, aquela que só podemos escrever quando deixamos o pensamento à solta para pensar o que lhe apetecer. São momentos em que o encantamento e a melancolia se misturam.
Que o ano de 2025 lhe concretize os sonhos e que tenha saúde.
Uma boa semana.
Um beijo.

Anónimo disse...

Isso mesmo, Graça. Encantamento e nostalgia, nem mais. Beijinhos