nem sei porque me trouxeram o inverno se já o tinha assente sobre as pernas
aqui ali sentado escrevendo na casa de verão nunca ninguém me disse
que eu tinha imaginação mas imagino que a tenho imaginando
a plena infância a juventude inventada agora à pressa on n'est pas sérieux
quand on a 17 ans imagino a ascendência e a decadência da dinastia de avis
o tédio e a euforia dos anos 70 a loucura bem disposta quando num dia de sol
fomos comprar peixe à praça o mergulho atlântico num rio que corre no meio
de portugal a águia que às vezes me sobrevoava quando pioneiro procurava
pepitas de ouro na meseta central poder-vos-ia descrever toda a minha vida
sofrível palavra aprendida quando a professora ilídia classificou o meu teste
de português como se a ela tivesse sido uma aventura ao sol perseguição
a cavalo dos índios navajo numa pradaria em braga e tudo isto é triste
e ao mesmo tempo ousado sobretudo solitário porque imaginamos
sempre sozinhos em contramão com a realidade que nos toma como um
peixe a respirar o vento que cruza a casa de verão neste dia invernoso
Aroeira, 5 de janeiro de 2025
2 comentários:
Gosto desta sua prosa poética, aquela que só podemos escrever quando deixamos o pensamento à solta para pensar o que lhe apetecer. São momentos em que o encantamento e a melancolia se misturam.
Que o ano de 2025 lhe concretize os sonhos e que tenha saúde.
Uma boa semana.
Um beijo.
Isso mesmo, Graça. Encantamento e nostalgia, nem mais. Beijinhos
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