11/01/2025

Big Fish

 

À Adília Lopes, in memoriam


O grande peixe esconde-se no candelabro das trevas. As suas barbatanas arfantes aceleram o fluxo das águas paradas, garantindo a salubridade possível no meio da podridão permanente.

Quando as nuvens deixam passar alguns raios  disfarçados de indigentes, o grande peixe sai do seu ancestral aposento,  conhecido — desde o princípio do seu legado dinástico — por "Cova Funda".

Emerge então pela coluna de água, agora pseudo solarenga, e, das suas escamas, um matiz vermelho e azul reluz, institucional e magnânimo. Todos estamos afinal condenados à nossa magnitude, seja ela qual for. Quando era um pequeno e escuro alevino, ninguém diria assim  tão grande e brilhante se tornaria.

O grande peixe saboreia inocente estes instantes de fama e poder, como qualquer condor faria, sob os ameríndios céus de uma civilização no tempo perdida.

 



1 comentário:

carlos perrotti disse...

Conmovedora prosa para Adília, una grande Poeta. Ela amaba os gatos y por eso aprendía a amar a sua poesía.
Abrazo, amigo!!