À Adília Lopes, in memoriam
O grande peixe esconde-se no candelabro das trevas. As suas barbatanas arfantes aceleram o fluxo das águas paradas, garantindo a salubridade possível no meio da podridão permanente.
Quando as nuvens deixam passar alguns raios disfarçados de indigentes, o grande peixe sai do seu ancestral aposento, conhecido — desde o princípio do seu legado dinástico — por "Cova Funda".
Emerge então pela coluna de água, agora pseudo solarenga, e, das suas escamas, um matiz vermelho e azul reluz, institucional e magnânimo. Todos estamos afinal condenados à nossa magnitude, seja ela qual for. Quando era um pequeno e escuro alevino, ninguém diria assim tão grande e brilhante se tornaria.
O grande peixe saboreia inocente estes instantes de fama e poder, como qualquer condor faria, sob os ameríndios céus de uma civilização no tempo perdida.
1 comentário:
Conmovedora prosa para Adília, una grande Poeta. Ela amaba os gatos y por eso aprendía a amar a sua poesía.
Abrazo, amigo!!
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