31/08/2023

31 de agosto

Tudo tão triste,

desnecessariamente triste.

Há uma desumanidade em ferida

que teima em sarar.

Há cada vez mais quietude,

mas sem os dedos brancos que vinham acender o amor.

Pela minha imensa história

distanciei-me dela mesma.

O calor da ilusão ainda me desfoca os destinos,

mas sinto o tédio de quem já sabe como  o filme acaba.

Ainda me espanta o fundo do mar, 

o seu mistério híbrido, carnal e vegetal,

com os cardumes de sargos,

petiscando as algas que relaxam nas rochas.

De todas as representações paradisíacas, 

aquela é a mais próxima do ideal,

coração que ainda bate apesar da morte cerebral,

ou talvez o contrário disso.

O que sei eu das palavras, para além do impulso de as escrever,

E se algum significado têm, esvai-se logo que as escrevo.

Sinto que sou o homem mais triste do mundo.

É estranho o meu desejo ardente em viver.




5 comentários:

Jaime Portela disse...

Um poema de desânimo...
Mas nem por isso menos bom. Gostei imenso.
Continuação de boa semana, caro amigo Luís.
Um abraço.

PS: não me esqueci do email...

lis disse...

O querer bem as vezes machuca o coração
há vida lá fora. Apaixone-se.
quando um filme acaba, a tela espera
que acione outro.
São só paradigmas,somos capazes de
mudá-los.
Um abraço, Luís Palma, um abraço

Margarida Pires disse...

Uma escrita muito sublime, fecha - se uma porta. abre - se uma janela!
Não ao desânimo! Mudança!
Um beijinho!
💗💋💗Megy Maia

solfirmino disse...

Maravilhoso! Gosto muito desse sujeito lírico profundamente triste. Porque não dá para ser o tempo todo feliz.
Vou levar e analisar com calma depois, você deve saber que estou cheia de coisas para ler e fazer!
Só passei mesmo para uma visita.
Beijinho

solfirmino disse...

Luís, os sentimentos de melancolia, tristeza, solidão e introspecção são muito marcados nesse poema. "Tudo tão triste,/ desnecessariamente triste."
Há uma indicação da distância da própria história, uma sentimento de desconexão com o passado e com suas próprias experiências. "distanciei-me dela mesma."
No final, ainda há esperanças, pois o sujeito compreende a inevitabilidade das coisas. Apesar de sua tristeza, mesmo com tédio, mostra a contradição entre a tristeza profunda e o desejo de viver como elemento principal.  "Sinto que sou o homem mais triste do mundo./É estranho o meu desejo ardente em viver."
Um abraço, meu amigo