16/05/2023

Covil

Não venhas, Manhã,

mãe longuíssima do atrito

que há entre o sol e a sombra.

Fica onde estás.

Deixa reinar a noite eternamente,

rainha vesga dos pardos,

dos que finalmente descansam 

do desprazer dos dias.


Tudo cansa, tudo é demais

para quem não quer mais

que uma cadeira de balanço

debaixo de um alpendre de pedra,

onde repousam para sempre

dois cães de louça chinesa,

dois chás de tília e uma ausência

que saiba e possa conversar contigo.


2 comentários:

Luís Palma Gomes disse...

As manhãs já me pesam, confesso. Depois de quase quarenta anos de dever, seria justo ter as manhãs apenas para ler e escrever - preguiçar, talvez.

Assim não quer o destino, a Segurança Social ou provavelmente uma confluência de fatores que não desvendo na minha miopia de mortal.

Conheço alguns da minha idade que já se desenfiaram, como se dizia na tropa. Sorte a deles.

A minha sorte é a poesia.

Anónimo disse...

Realmente, amigo. "Tudo cansa, tudo é demais..." Mas ainda estamos aqui. Eu tenho 52 anos e já passei por 2 cirurgias. Estou cansada. Mas ainda quero viver. Solange Firmino