28/03/2023

Pequeno discurso

Sábado à noite, não conseguia adormecer. O “Último Castro”, peça da minha autoria, recebera oito prémios. Sonhava, por isso, de olhos abertos que era um dos meus ídolos literários: Arthur Miller ou Tennesse Williams. Quando escrevia, porém, estas palavras já tinha acordado para a realidade: estava na estação da Reboleira a apanhar o Metro para dar aulas de TIC e ganhar pouco mais do que para sobreviver. 

O meu filho confidenciou-me que na entrega dos prémios Mário Rui Gonçalves, alguém do júri declarou: “Enquanto alguém quiser contar a verdade, o teatro não acaba.”. Num documentário sobre Miller filmado pela sua filha, o dramaturgo diz algo nesse sentido: “As pessoas veem a realidade deformada. Eu faço-os ver a verdade”.

Seria soberba ou alucinação da minha parte acreditar que alguém possa conhecer a verdade absoluta. Podemos, porém, aproximar a lente, mudar o ângulo com que perspetivamos as coisas, os fenómenos.

Em modo exploratório, pergunto: “Quem não gosta da verdade?” Diria: “A injustiça, a ganância, o despotismo”. Por superar estas infelizes dimensões, o TPN continua na senda do sucesso à sua escala. Aqui, todos são convocados a participar, a dar a sua visão, a experimentar a sua intuição. Este espírito justifica, a meu ver, os nossos sucessos. 

Álvaro de Campos escreveu:“ Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer”. No seu leito de morte, as consciências apartadas da sua ambição, abandonando as suas paixões, ficam mais lúcidas.

Foi por isso que o Mestre José Ruy, antes de partir, pediu para falar com o Porfírio Lopes. Foi com essa lucidez que ele reviu no TPN, os valores  da fraternidade, da comunhão de esforços em torno de um ideal comum, onde a individualidade reforça o coletivo, onde o todo é maior que a soma das partes.

Viva o Passagem de Nível.

Viva o Teatro.

Viva a verdade.





3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom, Luís.
Feliz pelo significado dos prémios.
Feliz por vocês, pelo merecido reconhecimento público.
Belo texto.

Anónimo disse...

Parabens Luis, grande escritor.

Graça Pires disse...

Parabéns pelos prémios. Fico feliz por ser reconhecido, visto que eu nem sabia que era dramaturgo e ligado ao Teatro e muito participativo. Ignorância minha, que não fui procurar o seu nome para saber mais alguma coisa, além do seu blogue.
Eu, embora não vá ao teatro tantas vezes como desejava, gosto muito de assistir a boas peças, daquelas que me fazem pensar e acrescentam alguma coisa
à minha sensibilidade. Que as suas carreiras tenham muito sucesso, meu Amigo.
Um bom fim de semana.
Um beijo.