10/03/2023

A pomba

Às vezes, o tempo muda.
As nuvens trazem sem querer uma sombra desnecessária. 

Tão desnecessária como a pomba morta que vi há pouco na rua.

E sabe-se lá porquê
imaginei-a pequenina, sobre o ninho, bico aberto, 
pedindo à mãe o corpo que não tinha ainda;
depois, graúda, voando num bando
lustroso, aguarela feliz invadindo o céu.

Subiu-me aos lábios um comprazimento doido, 
aliança entre todos os pombos passados e futuros. 

Sentado no parque, com a passarada em  redor,
escrevi tudo isto.

E as nuvens partiram,
trazendo-me à pele   aquele calor que se aceita 
sem razão nem esperança.

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