As nuvens trazem sem querer uma sombra desnecessária.
Tão desnecessária como a pomba morta que vi há pouco na rua.
E sabe-se lá porquê
imaginei-a pequenina, sobre o ninho, bico aberto,
pedindo à mãe o corpo que não tinha ainda;
depois, graúda, voando num bando
lustroso, aguarela feliz invadindo o céu.
Subiu-me aos lábios um comprazimento doido,
aliança entre todos os pombos passados e futuros.
Sentado no parque, com a passarada em redor,
escrevi tudo isto.
E as nuvens partiram,
trazendo-me à pele aquele calor que se aceita
sem razão nem esperança.
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