29/10/2022

Memorialogia



A memória funde-se
num transe de água turva.

Nada do que te lembras é seguro:
o cavalo que corria pelo prado 
ou mesmo aqueles irradiantes saltos 
que davas para o mar
podem ser apenas o resultado súbito
de uma chávena de café forte.

Como podes ter a certeza do aconteceu,
se pousavas tão bem para as fotografias,
e mesmo  quando perguntas, 
são tão incertas as respostas
como as cerejas que se enlaçam
no pequeno saco que compraste
ontem no mercado.

Talvez tudo tenha sido um poema bizarro,
e tu, agora sozinho, o príncipe da imaginação,
entretanto, caído numa poça escondida
debaixo de um banco de nevoeiro.

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