30/10/2022

Aurora

 I

A manhã nasce, desígnio moral.

E nesse exato momento 

tudo parece crescer

e  salvar-se outra vez.


II

Há na claridade

uma evidência póstuma 

da última noite, uma teimosia

 que não cumpre a morte,

apesar de necessária.


III

E a gata lambe de novo

o que já havia lambido,

mecânica inorgânica

aceite há muito

como um emprego normal.


IV

É isto que espanta:

a repetição do azul-celeste,

o mesmo sinal  desde a infância,

o bêbado que apenas acorda

para beber o meio-dia.


V

Aquietam-se por agora as sombras.

 Essas que mais tarde    julgar-nos-ão,

aguardando apenas 

que a luxúria das estrelas

as desinquietem também.

 


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