18/06/2022

Apelo

 Escuta-me a palavra,

as palavras.

Prometo-te o anfíbio da síntese,

o sumo  da beleza apenas

e mais um ou outro silêncio para respirares 

durante o mergulho.


Vem comigo, amigo.

Segue-me na apneia da nossa cegueira.


Prometo-te a cor gelada dos rios

acabados de nascer,

a lembrança do primeiro amanhecer

durante a última noite na Terra.


Prometo-te sublimar 

a alucinação interior, anterior,

encontrar a prosódia certa,

o ritmo, a decência de uma voz

aparentemente imaculada,

capaz de escrever frutos inocentes,

intervalos necessários

para o ressoar das rimas,

para a eventual melodia

que os sinos conseguem aos domingos.

Nada disto é fácil.

Eu sei disso: 

peço-te por isso

só mais uma oportunidade

para a minha mais insolente ilusão.

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