Oh as manhãs, as manhãs, as manhãs
são arpejos de chapins refletidos sobre os ribeiros,
camiões em trânsito trazendo e levando a claridade,
anseios ligeiros, quando os tempos são de invernia.
As manhãs conhecem-nos nus e esfomeados.
As manhãs são a esperança das noites,
ou a angústia de quem se percebe vivo outra vez.
Como louvam os pássaros as manhãs,
enquanto se agitam as estradas tão estranhas
ao mar raso e coloquial
que entra sem rumor pela praia de Algés adentro.
Oh as manhãs, as manhãs, as manhãs
têm o sabor amargo do café
que sentimos nos cantos da boca,
quando a fala trôpega sacode o ar ainda frio
que se esgueira pela fresta da janela.
São um prenúncio das histórias verdadeiramente inventadas.
São o fio da navalha, limite incerto entre a paz e o metro,
o calor e a chuva inesperada, o desejo de um bolo
que não se come há anos.
Oh as manhãs, as manhãs, as manhãs.
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