04/07/2021

Quase poemas

(primeiro)

 Já me falta a energia que projeta os vencedores do salto em comprimento, que rompe com a  inércia dos discursos comemorativos quando embalam.

Agora contemplo sempre as mesmas coisas num tédio onde me defendo do tempo que foge.

Ao passear a cadela pelo campo, regresso às manhãs ásperas de outrora, esquecendo-me por momentos da eterna e dulcíssima noite apalavrada.


(segundo)

Não digam a ninguém que andam  por aí a escrever poemas:

"Que perversão", diriam, "Que infâmia" esbanjar assim o tempo sem fritar rissóis ou ajudar os outros corpos a saltar a cerca dos amanhãs  prometidos.

(terceiro)

Na primeira prateleira, encostado aos meus livros de solteiro, tenho um asténico mealheiro, onde as moedas aos cair, fazem sair voando morcegos travestidos de borboletas azuis.

Ajuntando-se junto ao candeeiro, o bando lembra-me o perfil do sábio persa que escreveu o primeiro tratado sobre a música que faz os astros ficarem felizes.

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