Qual o poeta que não queria ter escrito um grande poema ? Um daqueles que saem da caneta durante uma semana, um mês ou um ano inteiro e que depois de uma emenda aqui, um corte acolá, o poeta olha-o exausto e pensa:"Já está.".
O que sentiu o Pessoa depois de ler a sua
"Tabacaria" ? Pensou que era "A Obra" ou que apenas se tratava de mais um esboço para a arca ? E o grego Kavafis, na sua Alexandria, depois de escrever
"À espera dos bárbaros" ? Como conseguiu ele reduzir tanto em tão pouco e com tanta beleza - espero eu, que não sei ler grego. E Ruy Belo, como se sentiu ele depois da
"Muriel" ? Terá ele pensado que podia viver sem ela, sem elas - suas musas de fumo com quem trocaria olhares nos átrios dos cinemas ou nas esplanadas de Madrid ?
Por mais insignificante que seja, todo o poeta tem a esperança envergonhada de com algumas linhas - vindas sabe-se lá donde - ficar no imaginário coletivo das gerações futuras e tornar algo por si criado, ou montado se assim quiserem, numa referência clássica.
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