Do amor, existem dois tipos: o egoísta e o generoso. O primeiro controla, exige, é reflexivo, ou seja, ama e espera ser amado. Este amor egocêntrico cresce quando o amado se assemelha, prolonga ou complementa o amador. O segundo, o generoso, liberta, arrisca, ama independentemente de ser amado e sobretudo aceita e compreende que amar assim implica um sofrimento proporcional.
26/02/2018
Do amor
Do amor, existem dois tipos: o egoísta e o generoso. O primeiro controla, exige, é reflexivo, ou seja, ama e espera ser amado. Este amor egocêntrico cresce quando o amado se assemelha, prolonga ou complementa o amador. O segundo, o generoso, liberta, arrisca, ama independentemente de ser amado e sobretudo aceita e compreende que amar assim implica um sofrimento proporcional.
25/02/2018
Pelo rio abaixo (versão declamada)
Poema escrito para a homenagem a António Borges Lopes (1943-2018) realizada no Auditório de Alfornelos em fevereiro de 2018
Foto de Carla Ferreira da última cena de "A Moura" levada à cena pelo Teatro Passagem de Nível
Cenários de Paulo Oliveira
Figurinos de Francisco Silva
Atores: António Borges Lopes e Luís Palma Gomes
24/02/2018
Pelo rio acima
Este poema foi escrito com a intenção de ser declamado na homenagem efetuada ao amigo António Borges Lopes no "Serão dos Poetas" (Alfornelos - Amadora, 24 de fevereiro de 2018). As letras maiúsculas significam mais ênfase na dicção.
Às vezes apetece-me um lugar comum, por isso digo-vos
AS LÁGRIMAS COM QUE ESCREVO SÃO DE SANGUE
Não são nada.
São de ÁGUA, simples ÁGUA
Descem a colina dos PÁSSAROS
Até à serena HORTA DOS FRADES.
As LÁGRIMAS COM QUE escrevo
Trilham as profundas rugas da MONTANHA
E como um cuidadoso FIO DE AZEITE
Perguntam ao RIO se podem entrar na CORRENTE.
Olham para trás, A NASCENTE
Olham para a frente, TANTA GENTE
Gente, Não.
Aquilo, senhores, é a humanidade dos PEIXES.
Peixes que saltam, juntam-se, separam-se e
Comem-se entre eles às vezes.
(Voz da multidão): “MEMENTO MORTI”... “MEMENTO MORTI”
“Lembra-te que és mortal”
Diziam os escravos aos generais romanos
Quando entravam vitoriosos
Na cidade eterna
“MEMENTO MORTI”
“Lembra-te que és mortal”
Mas os peixes, senhores, NÃO OUVEM
NÃO TEM TEMPO
Ou se ouvem, Não se entendem
Há as correntes, os peixes grandes, as rochas, as represas
E pela frente
Sempre aquela esperança
Ora ausente ora presente
De um infinito e manso mar
Onde as minhas lágrimas de sangue se diluiem
Porque agora se lembram da tua lição
Da tua forma subtil de dizer:
Como é bom viver
Em mar aberto e num alegre cardume de peixes
Finalmente FRATERNOS.
18/02/2018
Maria Teresa Belo
Já sentia por ela uma certa ternura antes de a conhecer. Tudo porque ao ler "O elogio de Maria Teresa" de Ruy Belo, pressenti refletida naquele poema a dimensão de Maria Teresa Belo, mulher e mais tarde viúva do poeta. Depois conheci-a felizmente e pode confirmar e aumentar a consideração que tinha por ela, como mãe, professora e mulher do poeta Ruy Belo - condição que ela sempre abraçou com firmeza e determinação. Ontem soube que faleceu, depois de uma luta de seis anos com a doença. Sempre a vi porém animada e esperançosa. Foi hoje a enterrar em S.João da Ribeira (Rio Maior) juntando-se ao marido que ali jaz. Em sua memória, transcrevo dois versos do poema atrás citado que depois de os ler jamais os esqueci:
"Contigo fui cruel no dia-a-dia/ mais que mulher tu já és hoje a minha única viúva"
in "O elogio de Maria Teresa" do livro "Nau dos Corvos" de Ruy Belo
"Contigo fui cruel no dia-a-dia/ mais que mulher tu já és hoje a minha única viúva"
in "O elogio de Maria Teresa" do livro "Nau dos Corvos" de Ruy Belo
Dra. Maria Teresa Belo em sessão sobre a poesia de Ruy Belo (Rio Maior, 15/5/2013) |
16/02/2018
02/02/2018
Compreensão e silêncio
Ontem durante um programa biográfico sobre Angela Merckel na RTP3, citava-se a frase de Maquiavel relativamente ao chefe político: "Muitos o vêem, mas poucos o entendem". Não me parece que sejamos todos o "Príncipe" - obra de onde foi extraída a frase. Parece-me sim que todos nós devemos em parte sentir essa incompreensão dos outros.
Acredito que a maior esperança dos incompreendidos seria a existência de alguém que os conhecesse e compreendesse profundamente. Tenho fé na existência dessa entidade. Se esse alguém poderoso e caritativo nos compreendesse, poderiamos então abandonarmo-nos à nossa íntima vontade.
A boa nova é que, por via dessa entidade que chamamos Deus, essa compreensão misteriosa (omnisciência apenas parcial e profundamente subjetiva) acaba por acontecer pontualmente entre nós - criaturas instáveis sobre o conhecimento do outro.
E como podemos provar esta compreensão? O maior argumento, creio, está na força do seu silêncio. Sim, quando nos calamos tranquilamente diante do outro para o ouvir, inicia-se este milagre da compreensão.
Acredito que a maior esperança dos incompreendidos seria a existência de alguém que os conhecesse e compreendesse profundamente. Tenho fé na existência dessa entidade. Se esse alguém poderoso e caritativo nos compreendesse, poderiamos então abandonarmo-nos à nossa íntima vontade.
A boa nova é que, por via dessa entidade que chamamos Deus, essa compreensão misteriosa (omnisciência apenas parcial e profundamente subjetiva) acaba por acontecer pontualmente entre nós - criaturas instáveis sobre o conhecimento do outro.
E como podemos provar esta compreensão? O maior argumento, creio, está na força do seu silêncio. Sim, quando nos calamos tranquilamente diante do outro para o ouvir, inicia-se este milagre da compreensão.
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