17/05/2015

manhã velha

acendo a bandeira
num jogo de luz
intenso

e a manhã percorre
o quarto
acordando os cantos
entregando-os ao labor
da claridade

a gata cheira
as flores de plástico
num ritual
que lhe compete

olho as paredes
e vejo-as centenárias
cobertas de amarelo-fuligem
tingidas pelos cigarros interruptos
de um tempo que fuma, ansioso,
por nos engolir

apetece-me um poema
talvez seja um vício,
como o café
 não sei...
poemar é um estalido
uma minúscula faísca
que nos põe a pensar
que me faz escutar
a quinta-essência dos bardos,
a rouquidão dos xamãs que viajam
no dorso dos mortos

lá fora
um verão recente chama-me
como  crias esfomeadas
a piar

levanto-me
e insisto, mais uma vez,
na vida 

2 comentários:

Unknown disse...

Vou levar este comigo, será companhia para este dia. Água, fogo, terra, ar. Está tudo aqui. Muito bom.

Paris Toujours disse...

o poder de um poema,
partilho a opinião de que a poesia é viciante.

gostei muito.