Quando começo a pensar um poema, duas palavras assaltam-me frequentemente a consciência: “Todo” e “Talvez”.
A primeira parece exprimir um desejo inconsciente de absoluto — não um absoluto hegeliano, em constante transfiguração histórica, mas um absoluto teológico, sagrado, encerrando em si qualquer possibilidade que fuja à sua própria enunciação.
O “Talvez”, ao contrário, parece nascer noutro lugar da alma. É sinónimo de contingência, de incerteza; é a palavra a que todo o ente recorre para lidar com as inúmeras probabilidades que não controla.
Assim, “Todo” e “Talvez” são, para mim, as primeiras palavras de um poema — não como tema, mas como centelhas. Servem-me elas para delimitar, na medida do possível, uma morada respirável onde o poema possa chegar ao fim, como quem enche os pulmões antes de mergulhar.
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