12/04/2025

A parede

"O difícil e o estranho

tocam as paredes do muro em frente"

    Luís Quintais em "A noite imóvel" (pág.21)


Ergueram a parede

com movimentos de Tai chi:

lisa, ladrilhada, fechada

como o Castelo do Kafka

ou o futuro da Bolsa de Beijing.


E agora nada se vê

para além deste nevoeiro cimentado,

onde D.Sebastião* espera quiçá impávido

do outro lado da muralha.


Ao lado, uma montra de cabeleireiro encenada,

porta de entrada para a Caverna de Platão,

três páginas de Filosofia

que li ontem na livraria da Gulbenkian**

e das quais não percebi nada.


Notas de rodapé (para os meu amigos hispânicos)

*D.Sebastião, este rei de Portugal foi morto numa batalha em Marrocos e não tendo descendência, proporcionou que o rei de Espanha herdasse a coroa portuguesa. Corre o mito que numa noite de nevoeiro voltará ao reino.

** Fundação da Gulbenkian criada pelo arménio Calouste Gulbenkian antes da segunda guerra mundial  em Lisboa. A fundação tem atualmente vários museus e um grande e belo jardim no centro de Lisboa.



2 comentários:

carlos perrotti disse...

A cada relectura confirmo que es un gran Poema.

Mi abrazo admirado se potencia a cada relectura.

Graça Pires disse...

Não é bom quando, à procura de qualquer coisa, seja o que for, encontramos um muro a emparedar-nos os passos e a violentar-nos o andar. Sentimos ainda mais a nossa imensa fragilidade.
Tudo de bom. Uma Páscoa com amor.
Um beijo.