De vez em quando volto aos livros do Torga. Sobretudo aos Diários. Nunca li tamanha autenticidade. Apesar do mal-estar a que a sua consciência o submete, gostava de ser como ele: independente, quase casmurro (sinto-me o oposto).
Terá ele pago o seu quinhão pela sua personalidade. Mas quem não paga?
Dizia o Jorge Silva Melo numa entrevista, que gostava de trabalhar com jovens atores (Artistas Unidos) por que não sentiam culpa, ao contrário dos atores das gerações anteriores.
Mas como é possível viver sem culpa?
Toda a consciência ativa encontra motivos de arrependimento.
Porque uma consciência é um clone de nós próprios que nos interroga constantemente.
«Quando virás,
Hora feliz do grande esquecimento?
Morro, se for preciso....
De tal modo me rói o sofrimento,
Que te compro por tudo, Paraíso"
Miguel Torga em "Diário V" (1949)
Miguel Torga (escritor e médico - 1907-1995) |
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