Após ouvir «O ator» de Herberto Hélder na voz de Carlos Cerqueira, voltei ao ditado sem baias ou filtros do inconsciente:
Silêncio.
A mente brilha,
ativa no seu canto de sol e poeira.
As tempestades vão e voltam (às vezes)
deixando pelo deserto uma água
que se faz duna,
duna de peixes,
múmias orantes a outras múmias.
Não te aflijas, porque tudo passa:
as nuvens carregadas de noites,
a barba que desfazemos pela manhã,
até mesmo o croissant simples,
pequeno deus da burguesia,
se vai, dentada a dentada,
espiritualizando.
E mesmo que a chuva caía
enquanto o trovão ribomba,
a pintora pincela deslizante
a mais famosa seca de antanho.
A própria a raiva não é raiva,
mas a memória torrencial do crime,
porque tudo é outra coisa,
tudo é discutível desde os gregos.
Só este gato que brinca a meus pés
consegue explicar-me com certeza
o aprazível segredo de um instante.
1 comentário:
Porque tudo é outra coisa...
Como sua poesia é singular, Luis. Bravo!
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