30/07/2019

Como Lorca

Recorrentemente, regresso a García Lorca, à Andalucía, a um som de guitarra e flamenco. Fico toldado pela sua leveza e liberdade e não consigo impedir que a sua poética se entranhe. Sus gacelas, poemas de amor com uma estrutura de origem árabes, são muito bonitas, quase cantabilis. Assim escrevo eu como se fosse Lorca:

Tudo é derradeiro
Não há último, nem primeiro
Tudo é frágil e suspeito
E homem nenhum suspenderá 
O vento que embala as árvores
E as faz cantar como loucas
Nem a chuva que me traz à boca
Os novos rebentos do teu semblante
Recortado numa língua de água e fogo

De quem são estes campos de centeio ?
De quem são estes peitos de rola e giz ?

Ai, Ai, Ai, Ai...se o quis, porque o não fiz
Ai, Ai, Ai, Ai...se o cantei, porque o não disse
Bastavam palavras, 
Palavras  de gesso e firmamento
Palavras de riachos e aloendros



1 comentário:

Paris Toujours disse...

muito bonito.
Também partilho do encantamento pela Andaluzia e pelo Lorca.
Viva!