05/06/2018

Rua da Saudade

Foto do topónimo da rua de acesso ao cemitério de Belas


De regresso a Belas, fui caminhando pelos seus caminhos magníficos. Os mais altos, no cimo do vale, entregam-nos uma vista maravilhosa. Os mais resguardados, dentro da núcleo central da vila, levam-nos a um passado burguês e campal. Levam-me a mim, especialmente, ao início da minha vida de casado. O último percurso partia dos célebres fofos de Belas até às portas do cemitério e chamava-se Rua da Saudade. Caminhando etapa a etapa lá fiz a sua subida e este poema:

I

a água da fonte
recorda o chilrear do chamariz
quando de súbito se calou
e voltou
ao infinito da memória

II

como se possível fosse
percorro o passado
à procura de um desvio ou atalho
que me permita regressar à visibilidade

III

cambaleio num labirinto
ou danço com a tua ausência
a valsa transparente da saudade ?


IV

no final da estrada
lá está a carreta funerária
sedutora e pacífica
como um banco de jardim
que por mistério ou misericórdia
não é ainda para mim

1 comentário:

Augusta Rodrigues disse...

Parabéns pelo poema.
Obrigada