Este poema foi escrito com a intenção de ser declamado na homenagem efetuada ao amigo António Borges Lopes no "Serão dos Poetas" (Alfornelos - Amadora, 24 de fevereiro de 2018). As letras maiúsculas significam mais ênfase na dicção.
Às vezes apetece-me um lugar comum, por isso digo-vos
AS LÁGRIMAS COM QUE ESCREVO SÃO DE SANGUE
Não são nada.
São de ÁGUA, simples ÁGUA
Descem a colina dos PÁSSAROS
Até à serena HORTA DOS FRADES.
As LÁGRIMAS COM QUE escrevo
Trilham as profundas rugas da MONTANHA
E como um cuidadoso FIO DE AZEITE
Perguntam ao RIO se podem entrar na CORRENTE.
Olham para trás, A NASCENTE
Olham para a frente, TANTA GENTE
Gente, Não.
Aquilo, senhores, é a humanidade dos PEIXES.
Peixes que saltam, juntam-se, separam-se e
Comem-se entre eles às vezes.
(Voz da multidão): “MEMENTO MORTI”... “MEMENTO MORTI”
“Lembra-te que és mortal”
Diziam os escravos aos generais romanos
Quando entravam vitoriosos
Na cidade eterna
“MEMENTO MORTI”
“Lembra-te que és mortal”
Mas os peixes, senhores, NÃO OUVEM
NÃO TEM TEMPO
Ou se ouvem, Não se entendem
Há as correntes, os peixes grandes, as rochas, as represas
E pela frente
Sempre aquela esperança
Ora ausente ora presente
De um infinito e manso mar
Onde as minhas lágrimas de sangue se diluiem
Porque agora se lembram da tua lição
Da tua forma subtil de dizer:
Como é bom viver
Em mar aberto e num alegre cardume de peixes
Finalmente FRATERNOS.
1 comentário:
muito bonito.
escreves muito bem.
um beijinho
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