18/09/2015

Elegia de uma noite após grande derrota



   














“Ó noite onde as estrelas mentem luz
Ó noite, única coisa do tamanho do universo” 

Fernando Pessoa




A noite vai ser longa e estéril
como uma banheira cheia de óleo queimado.
Insones, a vergonha e a derrota
vão marcar-te a fronte com sonhos em brasa

             Não há nada mais triste
             que escrever poemas aos 50 anos
 

À noite tudo será esquelético,
como um bosque há pouco abandonado
por um  bando de cabras esfaimadas
que comeram sem dolo as minhas verdes esperanças.

         
           Aos 50 anos
          só devia ser permitido escrevermos salmos messiânicos,
          mesmo que as mãos tivessem de se estender
          por detrás das grades

A noite será um cubo pequeno
e lá dentro
o meu corpo engelhado
sentirá finalmente
o quanto a verdade asfixia
se é feita de barro
e nos entra pela boca a dentro,
derradeira



1 comentário:

Luis disse...

não nos resta mais aos 50 anos?


(gostei (claro))