23/02/2015

A égua

Numa secreta viagem ao Alentejo reflecti os meus medos e ansiedades no olhar assustado primeiro e depois ternurento de uma égua a quem chamamos depois “Elvira”. A égua andava agitada com a nossa presença. Corria a galope no espaço exíguo daquela pequena quinta. Ao ver aquela erva tão verde, deitei-me no chão. A Elvira parou. Ficámos ali por instantes estudando mutuamente as nossas intenções. A minha postura revelou-lhe alguma humildade, quiçá, e confiança. Ela viu alguém prostrado que provavelmente precisava de ajuda. A curiosidade ou outra coisa qualquer mais afectuosa, motivou-a a avançar até mim. Lentamente, agachei-me, arranquei um molho de erva e ofereci-lhe como quem dá um ramo de rosas a uma mulher ou a um amigo. Encontramo-nos os dois a meio caminho. Fiz-lhe uma festa no focinho e depois outra. As suas pálpebras semicerraram de acalmia.  Estava feita uma comunhão temporária dentro de mim. Dentro dela também, sabe-se lá.


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