I.
As bombas caiam sobre Berlim. Os aliados avançavam e tomavam
a cidade. No bunker, o Estado-Maior alemão dançava ao som do swing e bebia
champagne francês. Uma bomba fez tremer a sala da festa. Por momentos, houve um
lapso de realidade. Depois a festa continuou.
O frágil polvo , perseguido por uma garoupa enorme, viu um
buraco quase perfeito. Finalmente estava seguro. Entrou lá para dentro. Esperou
algumas horas, enquanto a garoupa rondava aquele abrigo quase perfeito. O peixe, impotente, acabou
por partir. O polvo sossegou e deixou-se ficar num meio sono, com um olho
ensonado e o outro amedrontado. Quando a luz vinda do céu cresceu, sentiu que o
abrigo emergia. Não entendeu logo o que se passava. Resolveu ficar na segurança
do buraco que afinal era apenas uma armadilha de pesca. O pescador retirou-o com um
gancho e colocou-o numa caixa de madeira. Três minutos depois, virou-lhe a
cabeça do avesso e o polvo, enchendo os guelras de ar, gritou o silêncio todo do
mar.
Sem comentários:
Enviar um comentário