02/06/2014

Os amadores

           a propósito do 33º aniversário do Teatro Passagem de Nível


Ouvem-se as sirenes das fábricas
Ou talvez já sejam os computadores que dizem “Até amanhã”.
Pousam-se as facas e garfos para a janta
O sol põe–se a Oeste e as luzes acordam do outro lado da noite
Despem-se máscaras e vestem-se outras
O teatro é o disfarce permitido da verdade
E o ator revira a pele e mostra o lado interior

Sobe-se ao palco como a um altar
O mundo inteiro é um coro
Abre-se um projetor sobre maria
Tudo em redor se silencia
Anónima maria … és agora sangue de corpos e almas sem fim
Quanta cumplicidade na expressão dos que olham para ti,
E que, por milagre, se esquecem de si
Ris e choras como tivesses dois rostos antigos
És Grécia, Molière, Gil Vicente,
Palhaço triste, viúva alegre, um austríaco (imagina) que samba
Ou esse segredo tão nosso chamado Domingos Galamba
Eu sei lá, maria… Só sei que respiras,  que te alucinas,
 que segues sempre apesar das ruas estreitas
e das afiadas esquinas
como um sono que segue de olhos  acordados
E por magia vives, uma noite, na cabeça do autor
Não sei se o fazes por vontade ou por distração:
A vida é como o amor,
Não se explica, vive-se, vive-se sem temor!

Ouvem-se as sirenes das fábricas de novo a tocar
Ou talvez já sejam os computadores que dizem “olá” outra vez.
Pousam-se as canetas e os olhos no ecrã
O sol nasce a Este e as luzes desligam-se do outro lado da manhã.
Diz-se “com certeza” ou diz-se “talvez”
Ouvem-se os tambores da guerra a rufar
ou será apenas o ruído dos operários a trabalhar ?
Não sei, ou melhor, nada sei.
Só sei  que espetáculo vai continuar.
Só sei que espetáculo tem de continuar.

Luís Palma – 30 de maio de 2014



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