O que mais impressionou na personagem de Freddie Quell é a sua capacidade em acreditar. Relevante também, por anteposição, é a forma como o cinema norte-americano trata aqueles que acreditam de forma absoluta em fenómenos fora dos seus cânones. O portador da fé é representado como um psicótico, alcoólico, sem rumo ou profissão fixa - enfim um renegado social. Na realidade, no espartilho lógico e linear de uma sociedade profundamente marcada pelas relações diretas de causa-efeito, acreditar sem razão parece aberrante, mas não o é. A fé é uma qualidade profundamente humana e ajuda-nos a seguir ou a prosseguir. Porque ela traz-nos sempre força redobrada para continuar e ultrapassar os obstáculos. Quando se acredita no mais profundo (ainda que misterioso) e se desvaloriza o superficial, a fé acontece. E creio que foi isso que aconteceu à personagem Freddie. Freddie ignorou o cepticismo dos outros membros da seita, o misticismo barato dos rituais e algumas conclusões mais absurdas em redor das teorias do Mentor. Porém, aquele "Mentor" acreditou nele, foi o pai calmo e tolerante que ele nunca tinha tido. A relação que se foi estabelecendo entre eles, ao longo do filme, ganhou uma dimensão sagrada e, quando assim é , o homem cresce e ultrapassa-se, porque o crente ganha confiança para se afirmar.
A ciência interessa-se apenas por matérias que pode comprovar. A fé não é um fenómeno comprovável pelo seu modelo. Ela está no âmbito da religiosidade e essa está em crise no Ocidente ou foi trasladada para uma dimensão "Disney", ou seja, infantil e desadequada da maturidade da dimensão histórica europeia.
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