19/11/2009

Pátio dos Deuses - Parte II


Os serões tardios do pátio dos deuses tinha a companhia especial do meu amigo Nelson. Um rapaz peculiar na sua essência. A sua voz era fina, e aos nove anos ainda não falava correctamente. Na nossa turma era o elo mais fraco, quem diria que ele seria alguém. É normal. A natureza filtra os melhores. Os fracos caem nas teias do fado e são esmagados no desespero. Bem, mas voltando ao essencial deste fulano. Passávamos horas no pátio, brincávamos, imaginávamos, atirávamos pedras ao comboio, naquela altura nem nos pareciam pedras, talvez o utilize o termo meteoros para qualificar aquilo que realmente atirávamos. Esquecíamos o leito do destino. Éramos livres . O Nelson era o meu melhor amigo, porque era o mais fraco, sempre amei causas perdidas. Ainda hoje procuro causas para lutar . Os anos foram passando rápido, vertiginosamente rápido. Fomos engolidos pelas marcas do tempo .


Hoje já nem sei quem é o Nelson. Aquilo que ele verdadeiramente é. Como é que as chagas do tempo fizeram–me esquecer os fracos ? Agora só me lembro dos vencedores. Em mais um momento introspectivo, questiono o porque do esquecimento.


Eu queria mesmo lembrar-me deste derrotado. Ele era mais que um simples esgazeado para mim.

Ouvi dizer que está em Leiria. Empacotou os argumentos da infância e é recluso de uma melodia melancólica das teclas de uma teclado informático . Esta angustia dá-me agonia interior. É algo com que não me conformo. Eu acho o passado tão confortável e cada vez mais tenho pavor da mudança. Quero abraçar o Nelson. Dizer-lhe que volte, porque o pátio espera-o. E a infância, essa continua sentada no banco do parque à espera que ele venha com a sua fraqueza .

Dedicado ao meu amigo Nelson, um abraço e um desejo sincero para a sua vida futura e para os seus sonhos.



Pedro M. de Castro

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