I
Só quando os grilos cantam,
consigo ouvir o silêncio.
II
Dizes que, para mim, a poesia é um escape.
E se for ao contrário?
Se for a vida
a encharcá-la de fumo?
Vou aprendendo a operar com o meu corpo sexagenário,
Ao contrário de mim,
tu nunca gostaste do Montijo.
E, por ironia do destino,
o montijo é o que eu mais gosto em ti.
III
Em setembro
as ondas ainda cabiam dentro de nós.
Em setembro
as ondas ainda cabiam dentro de nós.
IV
como alguém que se habitua a fazer chamadas com o telemóvel partido.
V
tu nunca gostaste do Montijo.
E, por ironia do destino,
o montijo é o que eu mais gosto em ti.
VI
Agora que as depressões meteorológicas têm nomes,
qual será o nome da minha?
VII
Traço um mapa vivo sobre o teu corpo,
como se estendesse uma rede ansiosa
por apanhar um rio.
VIII
A manhã está negra
como se o norte viesse
buscar o filho à escola.
IX
"Não podemos ter tudo.", escrevi 20 vezes.
Ainda assim não acredito.
X
Dizem que pagava às prostitutas para lhe ouvirem os poemas.
Dizem que ele pensou em suicidar-se, mas deixou isso para tempos melhores.
XI
Quando o pai morreu, o avô comprou-lhe uma tartaruga.
E lentamente as coisas foram-se recompondo.
XII
A certeza é uma coisa morta:
um pêssego sem caroço,
um prego na relva,
uma carpa que se convenceu
que aquilo não era um anzol.
XIII
As flores sussurram afagos;
os vales gemem lembranças;
as estrelas gritam distâncias.
Mas só quando olhas para elas.
XIV
Parece que hoje não chove,
parece.
Quando vai chover
as vozes são outras
e chove-me também.
Por isso, eu sei
que não vai chover,
como aqueles galos de plástico
que mudam de cor
quando isso acontece.
1 comentário:
Lo que es...
No lo que se ve.
Abrazo, amigo!!
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