Da minha janela vê-se o mundo. Ele é triste ou alegre, se eu estiver triste ou alegre (para os anglófonos, isto é evidente). Por isso, eu e ele somos o mesmo e temos a mesma dimensão.
Leio-o (o mundo) com as palavras que conheço. Daí não passo. Sou também aquilo que me falta. Os meus contornos são definidos, de certa forma, pelas minhas impossibilidades.
Sou o que não sou, ou o que ainda não sou, ou na versão mais nostálgica, o que deixei de ser. À medida que o tempo passa verifico ser cada vez válida esta possibilidade.
A inspiração do meu próximo livro é o calculo, por meio de silogismos e operações apenas possíveis na aritmética da poesia, de algumas das coisas que me são ainda impossíveis: Deus, o Paraíso na Terra, a santidade, como estado daquele que se consegue separar das condições mundanas para seguir um caminho, o caminho, melhor dizendo.
O exemplo é sempre o recurso mais fácil para o professor. Logo, imaginem um camponês, na Idade Média, a olhar o mar, especulando, ao mesmo tempo, tudo o que está para além da linha do horizonte. Nesse momento, ele está a calcular o impossível.
Esse camponês sou eu e o mar, esses enigmas que vislumbro e sobre os quais procuro preposições plausíveis que me tranquilizem por momentos, como alguém que se detém, por um breve instante, para respirar, enquanto foge da fera do tempo.
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