07/03/2022

Sonho

     Hoje sonhei com o meu pai. Durante o sonho, pedia-lhe para mexer-lhe na  orelha direita, a qual tem dois lóbulos em vez de um. Quando era pequeno, gostava de explorar esta particularidade com os meus dedos. Depois, sonhei que o abraçava. 

    O abraço era quente, sentia-o. Estranhei essa sensação térmica, porque a sonhava. Não esperava sentir calor naquela dimensão onírica. Apesar das imagens serem naturais, como poderia o seu calor corporal  invadir-me os sonhos?

De manhã, ao lembrar-me de tudo isto, uma nostalgia subiu-me aos olhos - não fossem eles a mais autêntica revelação do espírito. Estava assim, por não poder abraçá-lo naquele momento. E mesmo que pudesse, teria hesitado. Quando estamos tristes, tememos contagiar os outros com a nossa condição.

Ele estava longe. Maldita cidade que ao mesmo tempo que nos aproxima, também nos impede de tocar os outros quando precisamos deles.

Fui buscar o bloco de notas e escrevi este texto no Metro. Ao menos, disse-o ao papel. Mas não chega. Quero estar contigo, pai.

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