Encerro as pálpebras até meio dos olhos e tudo fica mais próximo e exclusivo: as crianças fugindo após insultarem-me, os cavalos lazarentos ruminando a sobrevivência das ervas, o canto solar das carriças alertando-me das labaredas da charneca que me consomem depois em silêncio e prazer.
Nos céus, o peneireiro para e anuncia a conceção em tempos de abstinência, como se a Quaresma pudesse ser o prenúncio do Maná.
Abstinência, abastança — soletro-as e pergunto: porque é que dois significantes quase homófonos têm significados tão divergentes? Andará sempre a música tão arreada da razão? A magia esquiva dos planos municipais?
Caio em mim e tudo me parece estrangeiro e fraterno, como uma guerra civil coreografada para um filme indiano.
As borboletas amarelentas, cintilantes enlaçam-se e na sua perfeição avisto a minha sede e nela percebo que quando as musas não querem, não vale a pena insistir em escrever poesia.
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