18/05/2021

A ruína

No cimo da escarpa avista-se  um castelo em ruínas. Suas torres e muralhas erguem-se agora caquéticas, como dentes espaçados e incompletos.  Ali, abandonado, o antigo bastião é um monumento à solidão. Ninguém lhe presta  já um carinho, uma breve homenagem sequer.  Apenas as cabras e as vacas lhe fazem companhia. Pela sua localização e envergadura, adivinha-se a importância de outrora.  

O castelo viu  partir os inimigos primeiro; os seus soldados com o último alcaide, tempos depois. Queixou-se a quem o ouvisse  da ingratidão  dos que o deixaram, apesar da sua inexpugnável solidez. 

Jamais assumiu  a sua inércia. Em vez disso, deu-lhe para culpar a história, as modas e a traição daqueles a quem dera boa guarida. Esquecera-se afinal  de mudar para continuar a fazer sentido.


Castelo de Peñafiel (Zarza La Mayor) 
Foto Fátima Rodrigues


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