23/05/2021

Aviso

 Aos meus filhos disse:

cuidado com os poemas

que queimam as pontas dos dedos

com ácido clorídrico

e desfazem pouco a pouco a traqueia

com o atrito daquelas partículas sintáticas

que ficam a mais nas esquinas dos versos.


Se querem ser poetas, meus filhos,

esqueçam  Kant, esqueçam Séneca

 e outros doutos cânones da razão.

Em vez disso, empreendam  sobretudo

uma melodia doida

saltando de galho em galho

pelo bosque naufrago dos moucos.


Em qualquer café da cidade, dir-vos-ão

que toda a poesia são diapositivos insanos

projetados em paredes rebocadas de lama e ilusão.


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