Desculpa-me esta luz bárbara.
Não há manhã que não insista, que não nos segrede os seus caprichos longínquos ou, pelo menos, os pequenos deveres: arrumar as roupas de verão, reparar o varão, substituir as portas do roupeiro.
II
Não entendes o campismo, as coisas simples, a humildade ou a prosápia das incomodidades.
A fila para as casas de banho habituar-te-á ao purgatório, mas aqui com cheiro de água e sabão em vez de enxofre.
Guardamos na memória estes curtos sinais da infância como quem dispõe ímanes de recordação nas portas do frigorífico.
III
Não há vida em Marte. E mesmo que houvesse, não a haveria em Júpiter ou Saturno.
É isso que nos interessa: que haja lugares sem vida, para podermos comprazer-nos nas ervas que crescem frescas à beira do jardim.
IV
As osgas são bichos feios, dizem.
Mas eu adoro-as e imagino-as do meu tamanho, a comer mosquitos e bifanas ao balcão daqueles cafés em redor das estações de comboios.
Ali conversam, circunspectas, sobre a cor dos azulejos e o espectro da luz que recai sobre os cantos da casa onde afinal gostariam de caçar.
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