Brandoa, 30 de julho de 2025
Às vezes, parece que tudo se concerta para nos silenciar a escrita: o cansaço, a desvalorização social do ofício de escrever — até os elogios nos podem esmorecer a vontade, ao confrontar-nos com a impossibilidade de fazer tão bem, ou melhor, do que da última vez.
Este bloqueio, externo ou interior, não é, felizmente, permanente. Segundo Heidegger, a consciência não é uma função moral contínua, mas sim um chamada ocasional, uma pergunta pela autenticidade do nosso Ser. Algo como: “O que faço aqui?” ou “Por que estou a concordar, ou a discordar, com esta posição?”
Somos atravessados pelos mais diversos estados de espírito, todos determinados pelo contexto da nossa existência, num determinado lugar e momento. É esta condição situada num espaço-tempo que o filósofo exprime no seu célebre conceito de Dasein — o Ser-Aí.
Apesar do cansaço, da vergonha de fazer pior do que antes, temos de continuar a escrever. Se não o fizermos, asfixiamos. Calamos a ejaculação das palavras antes do orgasmo, antes do último ponto final.
Não escrever o que a alma nos soletra é isso mesmo: um coito interrompido — ou pior ainda, nem sequer iniciado.
1 comentário:
Escribir es una misión muchas veces incumplible. Me pasa que escribo y escribo porque no logro decirlo.
Abrazo admirado, Poeta!!
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