30/04/2025

Só os vindouros

Ofuscaram-se ainda mais as coisas já pálidas,
sôfregas — 
como dois morangos que ficaram por apanhar.
Embaciaram-se os vidros do carro,
o sinal teimou em não se esverdear,
a criança chorou no banco de trás,
como um telemóvel a tocar durante uma reunião importante.


E ao escrever isto, tive a impressão de ser moderno —
o que é, afinal, uma pretensão antiga demais.


Mas como saber o que sou? 
Só os vindouros sabem quem fomos. 


Por ora, transigente como uma alga feita à maré,
ao sabor dos telejornais ou das coisas ínfimas, 
interiores como temores.

1 comentário:

carlos perrotti disse...

Cierto, no podemos saber quienes somos porque vamos siendo en todo momento. Nadie es efectivamente porque todos vamos siendo.
Lúcido también nostálgico poema. Inspirador además.
Abrazo hasta vos.