16/04/2025

A partir de um verso da Tabacaria de Álvaro de Campos

 



Há tantos que não pode haver tantos,

porque se houvesse tantos, nem um havia.


E mesmo que houvesse um,

como seria ele singular e autêntico,

se os outros eram tantos?


Não, não pode haver tantos

sem que rompesse de imediato

um escândalo e catástrofes,

por haver apenas um entre tantos.


E no final esse tal seria afinal nenhum,

para que continuasse a haver tantos,

apesar de não haver sequer um.

4 comentários:

carlos perrotti disse...

Brillante y superador. Te felicito, Poeta Amigo!!

Luís Palma Gomes disse...

Obrigado, Carlos

Dan André disse...

Luís, teu poema brinca com a ideia de identidade de forma provocadora e inteligente. É curto, mas cheio de implicações — como se colocasse um espelho na frente do outro e nos obrigasse a encarar o vazio que se forma no meio.

A forma como questionas a existência do “um” entre “tantos” é sutil e ao mesmo tempo desconcertante. No fim, a sensação é clara: quanto mais tentamos nos afirmar entre a multidão, mais escorregamos para o anonimato.

É um texto que deixa eco — simples na forma, mas certeiro na inquietação que deixa. Ja estou te seguindo aqui.

Abração
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com/2025/04/receita-de-um-caos-controlado.html

Luís Palma Gomes disse...

Muito obrigado, Dan. Pela tua leitura esclarecida.