Escondido no fojo, escuto a conversa das moscas. Deixo-as falar, finjo-me também mosca pousada sobre a janela para aproximar-me delas. O que dizem? Imagino que tenham conversas de merda. Não faz mal. Estou habituado a esse género de convivência. E como não as entendo, fico apenas a compreender o calor do vidro, a ouvir o rumor das árvores que não existem, as saudações guturais dos homens dispersos pela margem de um rio que já não corre por aqui. Foi canalizado para não interferir no cortejo fúnebre desta sina que agora chamam vida.
E as moscas? As moscas voaram enquanto eu pensava.
Agora percebo porque é que os camaleões não escrevem poesia durante o dia.
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