Todos sabem que a poesia é coisa de burgueses.
Cada um terá de encontrar a sua renda.
Quem a não tiver
(Pessoa, não teve; Camões, não teve; Pessanha, não teve)
terá de pagar com vinte vergastadas no lombo
cinco dias por semana,
mais quatro manhãs, por mês, num hipermercado perto de si.
Sem renda e com mulher e filhos, terá de multiplicar
as vergastadas por dois
e dividir o número de poemas por cinco.
1 comentário:
Manel dias escreveu sobre este poema depois de o receber: "Mais vale um só poema resgatado entre cinco, e suado de um corpo moído, que uma dúzia de vulgaridades de burguês com renda (e com punhos de renda). Esta tua contabilidade é da melhor e sacrificada extração. Luís, gosto mesmo muito"
Gosto muito do Manel. Foi ele que me quis poeta, a mim a tantos outros da minha geração.
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